... Uma frase que, depois de tantos anos, ainda ouço, muito nítida, toda vez que meu coração bate mais forte por algum encanto: “Peça a Deus para que aconteça o que for melhor para você, porque Deus sempre sabe o que é melhor para nós; a gente, não.” ...
Olhando para trás, porque às vezes só bem mais a frente conseguimos entender certas coisas do passado, eu percebo que, em vários momentos, ainda que eu não pedisse, parece ter acontecido o que Deus sabia que era melhor para mim e não o que eu superficialmente imaginava saber. Percebo que em algumas circunstâncias em que cheguei a lamentar pelo insucesso de planos que eu considerava os melhores do mundo, eu estava, na verdade, sendo poupada de encrencas das grandes. Hoje, eu entendo que quando a minha vó dizia aquilo ela estava apenas sugerindo, com outras palavras, que eu tivesse fé. Essa entrega diante do desconhecido. Essa possibilidade de soltarmos o suposto controle que acreditamos ter. Esse sentimento de que fazemos parte de uma inteligência que tudo toca, ama e conhece. Essa humildade para reconhecermos que na esfera da nossa mente mais grosseira nós sabemos muito pouco, quase nada. Essa confiança de que acontecerá realmente o que for melhor para nós, ainda que no tempo de cada acontecimento, tantas vezes cegos pelos nossos desejos, não possamos entender o que somente a nossa alma sabe.
Deus e a nossa alma vivem em contínuo diálogo desde os tempos mais remotos. São confidentes um do outro. Sabem segredos preciosos que não nos contam enquanto não nos for possível entendê-los. Veem cada fato sob uma perspectiva pela qual muitas vezes ainda não sabemos enxergar. Conhecem o jeito como as peças se encaixam, enquanto nos desgastamos tentando encaixá-las de qualquer maneira, com sofreguidão, para atender aos nossos interesses imediatos, mesmo que, restritos pela urgência dos seus apelos, não tenhamos visão do panorama real.
Ana Jacomo